17 setembro 2007

You'll never be happy, disse-me com um ar altivo, distante, no seu inglês perfeito. Não pude deixar de rir. Incredulamente repetia que não, que não podia ser, que a infelicidade não era hereditária! Mas ela continuava: I'm sure you'll never be happy. Não dei importância ao que dizia. Já não ouvia nada. Só o som do meu riso. Sentia o coração a contrair-se. Contra a minha vontade as ideias iam ficando embaciadas, pesadas, magoadas. Por mais que tentasse, não conseguia pensar com clareza. Aquelas palavras tinham-se instalado no meu corpo como um vírus. Sentia-me zonza, febril. Teria adoecido?!
Ao fim de tantos anos, ainda a vejo sentada na mesa ao fundo da sala, de cabelo pintado muito curto, roupas largas, um ar descontraído, talvez demasiadamente descontraído. Nunca esqueci. Não posso esquecer. O eco dessas palavras ainda contrai o meu coração. Como é que ela podia saber?