22 maio 2010
18 abril 2010
O meu coração morreu
- Um dia acordei e o meu coração tinha deixado de bater.
- E o que fizeste?
- Nada. Deixei-o morrer. Encolheu, foi apodrecendo e acabou por morrer. Já não sei quando. Já não me lembro. Ficou velho, bafiento.
- Não tentaste salvá-lo?
- Ele não quis.
- E o que fizeste?
- Nada. Deixei-o morrer. Encolheu, foi apodrecendo e acabou por morrer. Já não sei quando. Já não me lembro. Ficou velho, bafiento.
- Não tentaste salvá-lo?
- Ele não quis.
06 março 2010
Morrer de amor
Celinha era a moça mais bonita da rua. De estatura média e corpo delgado, todos invejavam o seu cabelo louro, comprido, encaracolado que não escondia o belo sorriso. A simpatia e serenidade que tinha não eram características que sobravam na família a que pertencia. Mas isso não a impedia de cumprimentar e falar com toda a gente de uma forma que só ela sabia, que só ela sentia. Cedo apareceu um rapaz que se tomou de amores por ela. Há muito que vivia fora do país com a família e quis lavá-la consigo. Os dois faziam um casal lindo. Toda a gente comentava. E o que a gente daquela terra gosta de comentar! Eram perfeitos. Tinham nascido um para o outro. Casaram e partiram para começar uma vida juntos. Deste amor nasceu uma menina. Os anos foram passando, e cada vez mais sentiam que estava na altura de regressarem.
Ela rapidamente arranjou trabalho num escritório cujo dono já tinha ganho fama de conquistador barato. O falatório não tardou a espalhar-se. Dizia-se que sim, que ela havia fraquejado, que havia traído o amor da sua vida por uma ilusão. As pessoas falam. E o que a gente daquela terra gosta de falar! O amor transformou-se em ódio, enfureceu-se e arrancou-lhe a filha dos braços. Ela sabia que não suportaria tamanha dor, a vida não faria mais sentido. Se ao menos pudesse voltar atrás... Naquele dia decidiu acabar com a vida. O veneno que tomou começava a fazer efeito e iria tranquilizá-la para sempre. Alguém a encontrou e levou ao hospital. Em agonia pedia agora que a salvassem, não podia abandonar-se daquela maneira tão cruel. Mas, já era tarde demais. Tinha caminhado na direcção errada e jamais voltaria. Sofreu. Morreu.
Às vezes parece que a qualquer momento irá virar a esquina, e então ver-se-á o seu corpo delgado, o cabelo levantado pela nortada e o belo sorriso iluminará a rua, uma vez mais.
Ela rapidamente arranjou trabalho num escritório cujo dono já tinha ganho fama de conquistador barato. O falatório não tardou a espalhar-se. Dizia-se que sim, que ela havia fraquejado, que havia traído o amor da sua vida por uma ilusão. As pessoas falam. E o que a gente daquela terra gosta de falar! O amor transformou-se em ódio, enfureceu-se e arrancou-lhe a filha dos braços. Ela sabia que não suportaria tamanha dor, a vida não faria mais sentido. Se ao menos pudesse voltar atrás... Naquele dia decidiu acabar com a vida. O veneno que tomou começava a fazer efeito e iria tranquilizá-la para sempre. Alguém a encontrou e levou ao hospital. Em agonia pedia agora que a salvassem, não podia abandonar-se daquela maneira tão cruel. Mas, já era tarde demais. Tinha caminhado na direcção errada e jamais voltaria. Sofreu. Morreu.
Às vezes parece que a qualquer momento irá virar a esquina, e então ver-se-á o seu corpo delgado, o cabelo levantado pela nortada e o belo sorriso iluminará a rua, uma vez mais.
04 março 2010
21 dezembro 2009
27 agosto 2009
08 julho 2009
16 maio 2009
Out of this world...
Antony and the Johnsons, Coliseu, 14 de Maio
Where Is My Power?
Her Eyes Are Underneath the Ground
Epilepsy Is Dancing
One Dove
For Today I Am a Boy
Kiss My Name
Everglade
Another World
Shake That Devil
The Crying Light
I Fell in Love With a Dead Boy
Fistful of Love
You Are My Sister
Hope Mountain
Twilight
Aeon
Cripple and the Starfish
Hope There's Someone
Her Eyes Are Underneath the Ground
Epilepsy Is Dancing
One Dove
For Today I Am a Boy
Kiss My Name
Everglade
Another World
Shake That Devil
The Crying Light
I Fell in Love With a Dead Boy
Fistful of Love
You Are My Sister
Hope Mountain
Twilight
Aeon
Cripple and the Starfish
Hope There's Someone
10 janeiro 2009
02 janeiro 2009
Another world
I need another place
Will there be peace
I need another world
This one’s nearly gone
Still have too many dreams
Never seen the light
I need another world
A place where I can go
I’m gonna miss the sea
I’m gonna miss the snow
I’m gonna miss the bees
I’ll miss the things that grow
I’m gonna miss the trees
I’m gonna miss the sun
I’ll miss the animals
Gonna miss you all
I need another place
Will there be peace
I need another world
This ones nearly gone
I’m gonna miss the birds
Singing all their songs
I’m gonna miss the wind
Been kissing me so long
Another world
Another world
Another world
Antony and the Johnsons
Will there be peace
I need another world
This one’s nearly gone
Still have too many dreams
Never seen the light
I need another world
A place where I can go
I’m gonna miss the sea
I’m gonna miss the snow
I’m gonna miss the bees
I’ll miss the things that grow
I’m gonna miss the trees
I’m gonna miss the sun
I’ll miss the animals
Gonna miss you all
I need another place
Will there be peace
I need another world
This ones nearly gone
I’m gonna miss the birds
Singing all their songs
I’m gonna miss the wind
Been kissing me so long
Another world
Another world
Another world
Antony and the Johnsons
02 dezembro 2008
(Im)Perfeições
- É esquisita esta mancha que tenho no pescoço, não é?
- Eu gosto.
- Gostas?!
- Adoro.
- Estás a falar a sério?
- Claro.
- Huh?...
- É unica. É tua, ninguém mais tem.
- Eu gosto.
- Gostas?!
- Adoro.
- Estás a falar a sério?
- Claro.
- Huh?...
- É unica. É tua, ninguém mais tem.
22 outubro 2008
"(...) A palavra é a invenção de nós próprios. É o caminho extenso até ao outro lado que não cabe na finitude.
Porque não haveremos de inventar palavras? Estendê-las pelo caminho dos sons e levá-las até ao limite, para ver se alargam o pensamento. Será que a palavra é o limite do pensamento? Ou há sempre palavras que nunca foram, à espera de nascerem? Temos palavras dentro de nós que esperam para serem ditas. Às vezes um saco de palavras para atirar ao outros. (...)"
O Amor Infinito de Pedro e Inês, Luis Rosa
Porque não haveremos de inventar palavras? Estendê-las pelo caminho dos sons e levá-las até ao limite, para ver se alargam o pensamento. Será que a palavra é o limite do pensamento? Ou há sempre palavras que nunca foram, à espera de nascerem? Temos palavras dentro de nós que esperam para serem ditas. Às vezes um saco de palavras para atirar ao outros. (...)"
O Amor Infinito de Pedro e Inês, Luis Rosa
22 setembro 2008
Outono
É o Outono que chega e traz dias mais pequenos e frios, a dança das folhas que cobrem as ruas, os casacos de lã que saem alegremente das gavetas, os gatos aninhados no meu colo, as chávenas de chá fumegante, o cheiro das castanhas assadas...
Começo a sentir-me melhor.
Começo a sentir-me melhor.
10 setembro 2008
Skol!
Hoje, o meu aluno dinamarquês, um diplomata de 59 anos, entrou na sala e, depois de me cumprimentar, disse:
- Preciso de ajuda! Amanhã pode trazer-me uma agulha e uma linha para coser um botão dos meus calções?
Há homens assim?!...
- Preciso de ajuda! Amanhã pode trazer-me uma agulha e uma linha para coser um botão dos meus calções?
Há homens assim?!...
22 agosto 2008
Fazes-me falta, tanta
Quando o dia se transformar em noite, verei de novo os teus olhos grandes e doces de menino que nunca cresceu. Correrei na tua direcção e abraçar-te-ei. Já não me lembro do teu cheiro, mas lembro-me de me aninhar no teu corpo quente. Sei que não vou evitar que as lágrimas molhem os nossos rostos colados. Sentar-nos-emos muito juntos e falaremos sem parar, para sempre.
24 julho 2008
Camaradas benfiquistas
- Comprei um creme fantástico que cheira a figo.
- Devias ter comprado um creme que cheira a Rui Costa!
Silêncio, seguido de riso estridente.
- Devias ter comprado um creme que cheira a Rui Costa!
Silêncio, seguido de riso estridente.
04 julho 2008
01 julho 2008
Imperfeito do Conjuntivo
Se um barco houvesse e me levasse sobre o mar, e me embalasse, e me mostrasse caras sorridentes, quentes abraços. Se um barco houvesse e cavalgasse as ondas, e o vento secasse as minhas lágrimas, e me segredasse palavras de conforto. Se um barco houvesse, não olharia para trás, abandonaria a dor e o luto. Se um barco houvesse e me levasse...
30 junho 2008
A relação neurótica que tenho com o meu corpo atinge o seu auge no Verão. Nesta altura as roupas são mais leves, mais curtas e põem a descoberto os quilos a mais, as manchas na pele por bronzear, cicatrizes, pêlos encravados... A luz do sol é intensa, tão intensa que me fere os olhos minúsculos. Persegue-me, gozando comigo, rindo da minha triste figura que se arrasta pelas ruas ofegante, a pingar gotas de suor ao tentar fugir daquele monstro de dedos compridos que queimam. Corro para a sombra. O ritmo cardíaco aumenta e insulto-me por, mais uma vez, não ter trazido uma garrafa de água. Quase morro! Não consigo perceber a histeria das pessoas com a chegada do Verão... Vivemos ou não num país com sol o ano inteiro?!
Apesar de ainda estarmos em Junho, já sonho com as folhas das árvores a cair e com castanhas assadas.
Apesar de ainda estarmos em Junho, já sonho com as folhas das árvores a cair e com castanhas assadas.
28 junho 2008
Porque é que as mulheres que amamentam insistem em usar t-shirts brancas coladas ao corpo, deixando antever os discos absorventes por baixo do soutiã?
(perguntar não ofende revisited)
(perguntar não ofende revisited)
26 junho 2008
"(...) Ainda hoje sonhava muitas vezes com os passeios que dava nos campos de Bolingbroke, os faisões, as raposas e as codornizes a cruzarem o seu caminho, e como o pai a mandava apanhar dentes-de-leão, e lhe jurava que cada uma daquelas partículas que se soltavam ao primeiro sopro, eram fadas que lhe garantiam todos os seus desejos. Queria repeti-los ali, naquele paço rodeado de terra fresca e por lavrar, o único de todos os que possuíam perdido no meio de nada, sem casas nem casinhas em redor, sem ruas e vielas, sem gente. (...)"
Filipa de Lencastre, Isabel Stilwell
Filipa de Lencastre, Isabel Stilwell
21 junho 2008
18 junho 2008
Certas e determinadas situações IV
Entro no comboio e sento-me a meio da carruagem quase vazia. A paragem na estação seguinte enche o resto dos lugares por ocupar. À minha frente senta-se um homem alto, magro, de pernas compridas. Não deve ter 40 anos, apesar da sua calvície. Por baixo da camisa de manga curta, consigo ver um fio de ouro reluzente. Tira o telemóvel do bolso, verifica possíveis chamadas, e, abrindo completamente as pernas, encaixa o dito debaixo do escroto. Sentado, de pernas completamente abertas, como se fosse uma mulher prestes a parir não uma criança mas um Nokia 3330, encosta a cabeça e fecha os olhos, tentando dormir. Está visivelmente cansado. Escondida atrás dos meus óculos escuros, observo com muita atenção esta cena intrigante, esperando que, a qualquer momento, surja uma explicação para o que se estava a passar diante dos meus olhos. A viagem continua. À minha frente continua, também, este homem, na mesma posição, tudo no seu devido lugar, à excepção do telemóvel, digo eu. Quando me levanto para sair, estica as longas pernas, deixando o Nokia exactamente no mesmo sítio onde o tinha entalado. Ainda à porta da carruagem, chego à conclusão que o indivíduo só poderia estar a carregar o telemóvel! Não há outra explicação para a cena que acabara de assistir. Também a mim me fez falta um escrotozinho durante boa parte da tarde, em que fiquei sem bateria, e muito transtorno me causou!
06 junho 2008
Ai, os homens...
- Dormias com um amigo teu?
- Não.
- Porquê?
- Porque não.
- Mas porquê? Qual é o problema?
- Sei lá! É esquisito.
- Eu já dormi com amigas minhas. Aliás, na época em que andava na faculdade, durante algum tempo, partilhei o quarto e a cama com uma amiga minha.
- Com as mulheres é diferente...
- Mas, afinal, vocês têm medo de quê?
- De nada! Não sei, é esquisito.
- Hmmm...
- Já dormi numa casa com outros gajos, uns no chão, outros no sofá, espalhados pela sala toda.
- Sim, mas estou a falar na mesma cama. Partilhares a mesma cama com um amigo teu.
- Não.
- Mas porquê?
- Porque não!
- Não.
- Porquê?
- Porque não.
- Mas porquê? Qual é o problema?
- Sei lá! É esquisito.
- Eu já dormi com amigas minhas. Aliás, na época em que andava na faculdade, durante algum tempo, partilhei o quarto e a cama com uma amiga minha.
- Com as mulheres é diferente...
- Mas, afinal, vocês têm medo de quê?
- De nada! Não sei, é esquisito.
- Hmmm...
- Já dormi numa casa com outros gajos, uns no chão, outros no sofá, espalhados pela sala toda.
- Sim, mas estou a falar na mesma cama. Partilhares a mesma cama com um amigo teu.
- Não.
- Mas porquê?
- Porque não!
17 maio 2008
Nasty!
"- Sim, sim M, vejo-te uma dominatrix, toda em latex, sofisticado e com muito bom gosto, botas envernizadas, de chicote em riste, passando-o suavemente no dominado. Embainhas o chicote e usas uma pequena palmatória com a qual vais açoitando muito devagar, fazendo pequenas sevícias, obrigando o dominado a confessar as suas traquinices. Por vezes, também pegas no espanador de couro..."
B, isto era capaz de render tostão!...
B, isto era capaz de render tostão!...
25 abril 2008
Mais um pontapé
Há pessoas que não merecem a minha amizade, o meu amor, a minha dedicação, a minha lealdade.
Há pessoas de quem gosto, em quem confio e que me decepcionam e me torturam com a sua indiferença.
Há pessoas que não me merecem.
Nunca vou aprender.
Há pessoas de quem gosto, em quem confio e que me decepcionam e me torturam com a sua indiferença.
Há pessoas que não me merecem.
Nunca vou aprender.
24 abril 2008
What's a girl to do
We walked arm in arm
But I didn't feel his touch
The desire I'd first tried to hide
That tingling inside was gone
And when he asked me
“Do you still love me”
I had to look away
I didn't want to tell him
That my heart grows colder with each day
When you've loved so long
That the thrill is gone
And your kisses at night
Are replaced with tears
And when your dreams are on
A train to train-wreck town
Then I ask you now
What's a girl to do
He said he'd take me away
That we'd work things out
And I didn't want to tell him
But it was then I had to say
Over the times we've shared
It's all blackened out
And my bat lightning heart
Wants to fly away
When you've loved so long
That the thrill is gone
And your kisses at night
Are replaced with tears
And when your dreams are on
A train to train-wreck town
Then I ask you now
What's a girl to do
What's a girl to do
What's a girl to do
What's a girl to do
But I didn't feel his touch
The desire I'd first tried to hide
That tingling inside was gone
And when he asked me
“Do you still love me”
I had to look away
I didn't want to tell him
That my heart grows colder with each day
When you've loved so long
That the thrill is gone
And your kisses at night
Are replaced with tears
And when your dreams are on
A train to train-wreck town
Then I ask you now
What's a girl to do
He said he'd take me away
That we'd work things out
And I didn't want to tell him
But it was then I had to say
Over the times we've shared
It's all blackened out
And my bat lightning heart
Wants to fly away
When you've loved so long
That the thrill is gone
And your kisses at night
Are replaced with tears
And when your dreams are on
A train to train-wreck town
Then I ask you now
What's a girl to do
What's a girl to do
What's a girl to do
What's a girl to do
02 abril 2008
What else is new?
A minha mediocridade é tal, que nunca ninguém sentirá orgulho do que quer que eu faça ou seja.
02 março 2008
25 fevereiro 2008
Doutor, preciso de ajuda?
- Alguma vez fez um aborto?
- Não.
- Já alguma vez esteve grávida?
- Não.
- Que idade tinha quando iniciou a sua vida sexual?
Não quero acreditar no que acabo de ouvir. Quem é que este homem de bata branca, sentado atrás de uma secretária, de caneta na mão, ladeado por dois estagiários de olhos postos em mim, pensa que é?! Ultrajada e envergonhada, baixo a cabeça e respondo:
- Tarde, muito tarde.
Volto ao tempo em que, naturalmente, havia decidido que apenas por amor me entregaria a alguém, somente quando tivesse a certeza dos meus sentimentos. Tudo o resto seguiria o seu rumo. Não foi algo que impus a mim própria. Acreditava que assim seria. Que reconheceria o momento de despir a armadura que decidira vestir. Durante anos foi essa a minha convicção. Hoje olho para trás e sinto que não foi uma decisão inteiramente minha. Na minha testa não havia um letreiro que dizia "Indisponível! Fechada para obras por tempo indeterminado". Havia, sim, uma rapariga desinteressante, vulgar, pouco feminina, que nunca foi alvo de desejo. Se me orgulhasse da escolha que havia feito, não teria sentido as maçãs do rosto incendiarem-se quando tive de responder:
- Tarde, muito tarde.
- Não.
- Já alguma vez esteve grávida?
- Não.
- Que idade tinha quando iniciou a sua vida sexual?
Não quero acreditar no que acabo de ouvir. Quem é que este homem de bata branca, sentado atrás de uma secretária, de caneta na mão, ladeado por dois estagiários de olhos postos em mim, pensa que é?! Ultrajada e envergonhada, baixo a cabeça e respondo:
- Tarde, muito tarde.
Volto ao tempo em que, naturalmente, havia decidido que apenas por amor me entregaria a alguém, somente quando tivesse a certeza dos meus sentimentos. Tudo o resto seguiria o seu rumo. Não foi algo que impus a mim própria. Acreditava que assim seria. Que reconheceria o momento de despir a armadura que decidira vestir. Durante anos foi essa a minha convicção. Hoje olho para trás e sinto que não foi uma decisão inteiramente minha. Na minha testa não havia um letreiro que dizia "Indisponível! Fechada para obras por tempo indeterminado". Havia, sim, uma rapariga desinteressante, vulgar, pouco feminina, que nunca foi alvo de desejo. Se me orgulhasse da escolha que havia feito, não teria sentido as maçãs do rosto incendiarem-se quando tive de responder:
- Tarde, muito tarde.
22 fevereiro 2008
Viskelæder
O meu vocabulário em dinamarquês está a aumentar!
Devagarinho, mas está.
Bom, só sei três palavras...
Devagarinho, mas está.
Bom, só sei três palavras...
Ford Cortina Van
Atravesso a rua e recuo mais de dez anos. Vejo-nos dentro duma Ford Cortina branca que herdaste do teu pai. O dia está quente, muito quente. De janelas abertas, estamos sentados naqueles bancos azul petróleo! Nunca gostei daquela carrinha. Deixou-nos ficar mal muitas vezes. Mas tu gostavas. Era imensa! Tão pesada quanto o ar quase irrespirável daquele dia em que passámos neste lugar onde agora estou. Ouço The Offspring no auto-rádio. Vejo-nos a rir. Vejo os teus longos caracóis ainda por cortar. Não me lembro para onde íamos, mas acho que nos fazíamos acompanhar pela guitarra e amplificador. Eram os tempos dos Freud's Groin! Eram os tempos em que não tínhamos nada e tínhamos tanto.
19 fevereiro 2008
I like watching the puddles gather rain
Gosto de acordar com o som das gotas que caem furiosamente do céu e batem nas janelas do meu quarto. Gosto dos espessos mantos cinzentos que cobrem o sol. Gosto de me enfiar dentro de camisolas de gola alta, de casacos compridos, de botas até aos joelhos. Gosto de me esconder debaixo do meu enorme chapéu-de-chuva. Gosto de sentir o cheiro da terra molhada. A luz do dia é amena, sonolenta e preguiçosa, assim como os meus passos que atravessam as ruas cheias de pequenos lagos.
Momentos de raiva
Para os palecos invejosos que falam mal da Nazaré, eu quero desejar:
BOA SORTE! TUDO DE BOM!
BOA SORTE! TUDO DE BOM!
05 fevereiro 2008
19 janeiro 2008
31 dezembro 2007
Com uma viagem na palma da mão
Agarras-te à hora
Em que o tempo não passou
Mergulhas nas cores
Que a loucura te emprestou
E quando te vês para lá do espelho
Encontras a solidão
Descobres o Mundo
De quem tem pouco a perder
E sobes às estrelas
Que ontem não podias ver
E perdes o medo de estar só
No meio da multidão
Tradições
Atrás de contradições
Fizeram-te abrir os olhos
Podes dizer:
Eu...sou
Jorge Palma
Mergulhas nas cores
Que a loucura te emprestou
E quando te vês para lá do espelho
Encontras a solidão
Descobres o Mundo
De quem tem pouco a perder
E sobes às estrelas
Que ontem não podias ver
E perdes o medo de estar só
No meio da multidão
Tradições
Atrás de contradições
Fizeram-te abrir os olhos
Podes dizer:
Eu...sou
Jorge Palma
26 dezembro 2007
O que é o Natal?
Diz-se que o Natal é a época mais bonita do ano, época de paz, de amor... Eu não posso concordar. É nesta altura que a solidão esmaga os nossos corações pequeninos. É nesta altura que as pessoas se enfiam nos centros comerciais e gastam tudo o que têm, em busca de alguma coisa que não podem ter. Enchem os sacos de presentes, compram sofregamente! É nesta altura que os afectos são postos de parte e que os cartões de crédito falam mais alto. É nesta altura que as pessoas se empanturram de comida, exageram nos doces e na bebida à falta de abraços, de beijos, de colo...
Um dia destes vou enfiar-me no Colombo e vou encher-me de mimos.
Um dia destes vou enfiar-me no Colombo e vou encher-me de mimos.
10 dezembro 2007
"Queria, já não quer?!"
- Olá, boa tarde.
- Boa tarde.
- Queria uma sopa.
- Queria, já não quer?! - responde o insolente.
Já é a segunda vez que o rapazola, do sítio do costume, me responde de forma audaz. Da primeira vez, adverti-o para o uso óbvio do pretérito imperfeito de cortesia. Desta segunda vez, engoli em seco e esbocei o meu típico sorriso amarelo. À terceira vez, parto-lhe os dentinhos.
Tenho cá um azar com empregados de mesa!...
- Boa tarde.
- Queria uma sopa.
- Queria, já não quer?! - responde o insolente.
Já é a segunda vez que o rapazola, do sítio do costume, me responde de forma audaz. Da primeira vez, adverti-o para o uso óbvio do pretérito imperfeito de cortesia. Desta segunda vez, engoli em seco e esbocei o meu típico sorriso amarelo. À terceira vez, parto-lhe os dentinhos.
Tenho cá um azar com empregados de mesa!...
08 dezembro 2007
O nó
Hoje acordei com um nó na garganta. Mal conseguia engolir. Era um nó feito de dor, de angústia, um nó feito de um líquido que queria rebentar a todo o custo. Tentei engoli-lo mas não consegui. As lágrimas escorriam-me pela cara. Sabiam a mar, sabiam a naufrágios, a gritos de mulheres à beira mar, a filhos órfãos. Sabiam a desejos por realizar, a sonhos destruídos. Sabiam a paredes nuas, a casas vazias de vozes e risos. Sabiam a solidão, à amarga solidão. Sempre a solidão. É um nó que mora dentro de mim, habita o meu corpo e nunca se esquece de me gritar que está vivo e que não me dará tréguas, mesmo que o entorne, de vez em quando. Não gosto dele.
05 dezembro 2007
28 de Outubro de 1995
Da tela preta surgem duas caras simetricamente coladas, sorridentes. Ele tem olhos grandes, castanhos, pestanudos, doces, muito doces. A tez dourada pelo sol, uma barba escassa assenta numa pele suave, como a de um rapazinho. O nariz bastante masculino salta à vista, não sendo demasiadamente grande, está em harmonia com o rosto. Entre os lábios carnudos, rosados, perfeitos, vêem-se os dentes brancos. O cabelo preto, muito curto, abandonara os longos caracóis conquistadores de outras paixões. Há uma orelha que espreita na escuridão da tela. Ela tem uns olhos pequenos, rasgados. São castanho-escuros. Não consigo ver as pestanas... A luz do flash apagou-lhe as pequeninas sardas que lhe salpicam o rosto oval. Vejo um sorriso nos lábios, também rosados, sobre uns dentes muito alinhados. O cabelo liso, brilhante, tapa-lhe parte do ombro. Umas luzes minúsculas saltam dos olhos destes dois amantes. Olham na mesma direcção. Estão em perfeita sintonia. Já não me lembro quem estava do outro lado da câmara, mas viu-os exactamente como eram, felizes, cheios de sonhos. Viviam num castelo feito de areia e água salgada. Não tinham mais nada. Eram livres e transparentes.
Lembras-te?
Lembras-te?
04 dezembro 2007
Hífen
Atamos: 1ª pessoa do plural do Presente do Indicativo do verbo atar.
Ata-mos: 2ª pessoa do singular no modo Imperativo + contracção do pronome pessoal complemento indirecto me com o pronome pessoal complemento directo, masculino, plural os.
Ata-mos: 2ª pessoa do singular no modo Imperativo + contracção do pronome pessoal complemento indirecto me com o pronome pessoal complemento directo, masculino, plural os.
25 novembro 2007
Chá com amigas
- Preciso de pôr muito açúcar no chá porque sou uma pessoa amarga!
Ao ouvir-me, riu-se.
- Esta miúda tem cada certeza acerca dela própria...
E dito isto, soltou um suspiro.
Ao ouvir-me, riu-se.
- Esta miúda tem cada certeza acerca dela própria...
E dito isto, soltou um suspiro.
13 novembro 2007
Até sempre
Hoje tenho um gosto amargo na boca, o gosto amargo da saudade, que aumentará, independente da minha vontade.
08 novembro 2007
Se
Se eu tivesse uma arma, por esta altura já me teria tornado a maior serial killer de donas de casa da Fertagus. Daquelas que se sentam à minha frente, aos pares, e não dão descanso à língua desde a partida à chegada. Mas que gente é esta que, às 8h da manhã, parece estar ligada à corrente? No meio das conversas, soltam gargalhadas, exalando um cheiro forte e agoniante a café. Outras cheiram a perfumes doces comprados em supermercados e o meu estômago, vazio e fraco, grita por socorro. Não tenho saída. O comboio está completamente cheio. Aumento o volume da música que abafa os sons estridentes daquelas mulheres, mas não os cheiros. De manhã não gosto de barulho, não gosto de cheiros. De manhã não gosto de nada!
Prefiro quando à minha frente se sentam homens. Para eles o silêncio não é constrangedor. Trocam duas ou três palavras e pegam no jornal. É muito mais simples e agradável para todos.
Prefiro quando à minha frente se sentam homens. Para eles o silêncio não é constrangedor. Trocam duas ou três palavras e pegam no jornal. É muito mais simples e agradável para todos.
Medos (7)
Tenho medo de pessoas que humedecem a ponta dos dedos na língua ao folhear revistas de interesse duvidoso.
25 outubro 2007
Sobranceria
Tenho dificuldade em lidar com a sobranceria dos outros. Não gosto, aborrece-me. A não ser que venha da parte dos meus gatos. Dessa gosto, acho piada.
20 outubro 2007
16 outubro 2007
As botas
Em pequena usava botas ortopédicas. Chorava porque queria sapatos com laços, como as outras meninas da minha idade. Mas não podia usar. Tinha de me contentar com as minhas botas feias, que não me embelezavam os pés pequeninos, mas, em compensação, me davam algum poder. Um dia, no meio de uma birra, ameacei partir o carro do meu pai, um Toyota Corolla verde água, com as minhas botas ortopédicas! Acho que nunca ultrapassei o trauma. Ainda hoje não sei andar bem, não sei caminhar como as mulheres elegantes que passam por mim na rua. Parece que flutuam em cima dos seus sapatos de salto alto. Adoro vê-las deslizar. Não sei como conseguem, especialmente nos passeios escorregadios. Nunca erram o passo, um a seguir ao outro. Eu tenho dores nos pés e nas costas sempre que tento colocar-me dentro de calçado elegante. Sou desengonçada, ridícula.
Apesar da idade, pressinto que nunca vou aprender a viver dentro deste corpo que me envergonha. Ou talvez me aperceba, finalmente, que nada disto tem qualquer importância.
Apesar da idade, pressinto que nunca vou aprender a viver dentro deste corpo que me envergonha. Ou talvez me aperceba, finalmente, que nada disto tem qualquer importância.
14 outubro 2007
10 outubro 2007
19 setembro 2007
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