06 março 2010

Morrer de amor

Celinha era a moça mais bonita da rua. De estatura média e corpo delgado, todos invejavam o seu cabelo louro, comprido, encaracolado que não escondia o belo sorriso. A simpatia e serenidade que tinha não eram características que sobravam na família a que pertencia. Mas isso não a impedia de cumprimentar e falar com toda a gente de uma forma que só ela sabia, que só ela sentia. Cedo apareceu um rapaz que se tomou de amores por ela. Há muito que vivia fora do país com a família e quis lavá-la consigo. Os dois faziam um casal lindo. Toda a gente comentava. E o que a gente daquela terra gosta de comentar! Eram perfeitos. Tinham nascido um para o outro. Casaram e partiram para começar uma vida juntos. Deste amor nasceu uma menina. Os anos foram passando, e cada vez mais sentiam que estava na altura de regressarem.
Ela rapidamente arranjou trabalho num escritório cujo dono já tinha ganho fama de conquistador barato. O falatório não tardou a espalhar-se. Dizia-se que sim, que ela havia fraquejado, que havia traído o amor da sua vida por uma ilusão. As pessoas falam. E o que a gente daquela terra gosta de falar! O amor transformou-se em ódio, enfureceu-se e arrancou-lhe a filha dos braços. Ela sabia que não suportaria tamanha dor, a vida não faria mais sentido. Se ao menos pudesse voltar atrás... Naquele dia decidiu acabar com a vida. O veneno que tomou começava a fazer efeito e iria tranquilizá-la para sempre. Alguém a encontrou e levou ao hospital. Em agonia pedia agora que a salvassem, não podia abandonar-se daquela maneira tão cruel. Mas, já era tarde demais. Tinha caminhado na direcção errada e jamais voltaria. Sofreu. Morreu.

Às vezes parece que a qualquer momento irá virar a esquina, e então ver-se-á o seu corpo delgado, o cabelo levantado pela nortada e o belo sorriso iluminará a rua, uma vez mais.