18 junho 2008

Certas e determinadas situações IV

Entro no comboio e sento-me a meio da carruagem quase vazia. A paragem na estação seguinte enche o resto dos lugares por ocupar. À minha frente senta-se um homem alto, magro, de pernas compridas. Não deve ter 40 anos, apesar da sua calvície. Por baixo da camisa de manga curta, consigo ver um fio de ouro reluzente. Tira o telemóvel do bolso, verifica possíveis chamadas, e, abrindo completamente as pernas, encaixa o dito debaixo do escroto. Sentado, de pernas completamente abertas, como se fosse uma mulher prestes a parir não uma criança mas um Nokia 3330, encosta a cabeça e fecha os olhos, tentando dormir. Está visivelmente cansado. Escondida atrás dos meus óculos escuros, observo com muita atenção esta cena intrigante, esperando que, a qualquer momento, surja uma explicação para o que se estava a passar diante dos meus olhos. A viagem continua. À minha frente continua, também, este homem, na mesma posição, tudo no seu devido lugar, à excepção do telemóvel, digo eu. Quando me levanto para sair, estica as longas pernas, deixando o Nokia exactamente no mesmo sítio onde o tinha entalado. Ainda à porta da carruagem, chego à conclusão que o indivíduo só poderia estar a carregar o telemóvel! Não há outra explicação para a cena que acabara de assistir. Também a mim me fez falta um escrotozinho durante boa parte da tarde, em que fiquei sem bateria, e muito transtorno me causou!