25 fevereiro 2008

Doutor, preciso de ajuda?

- Alguma vez fez um aborto?
- Não.

- Já alguma vez esteve grávida?
- Não.

- Que idade tinha quando iniciou a sua vida sexual?

Não quero acreditar no que acabo de ouvir. Quem é que este homem de bata branca, sentado atrás de uma secretária, de caneta na mão, ladeado por dois estagiários de olhos postos em mim, pensa que é?! Ultrajada e envergonhada, baixo a cabeça e respondo:
- Tarde, muito tarde.

Volto ao tempo em que, naturalmente, havia decidido que apenas por amor me entregaria a alguém, somente quando tivesse a certeza dos meus sentimentos. Tudo o resto seguiria o seu rumo. Não foi algo que impus a mim própria. Acreditava que assim seria. Que reconheceria o momento de despir a armadura que decidira vestir. Durante anos foi essa a minha convicção. Hoje olho para trás e sinto que não foi uma
decisão inteiramente minha. Na minha testa não havia um letreiro que dizia "Indisponível! Fechada para obras por tempo indeterminado". Havia, sim, uma rapariga desinteressante, vulgar, pouco feminina, que nunca foi alvo de desejo. Se me orgulhasse da escolha que havia feito, não teria sentido as maçãs do rosto incendiarem-se quando tive de responder:
- Tarde, muito tarde.