12 agosto 2007

Atlântico

No sábado passado deixaste que entrasse dentro de ti. As gotas do meu suor misturaram-se rapidamente com o teu sabor a sal. Estavas tão meigo. Recebeste-me de braços abertos. Senti-me pequenina outra vez. Foste-me embalando e contaste-me algumas histórias. Ouvi-te até os meus dedos ficarem engelhados e ter corrido para me estender na areia quente. Olhei-te de longe. És tão vaidoso! Adoras que te olhem, que te admirem. Eu respeito-te. A minha mãe conta que estavas muito furioso no dia em que nasci. Explodiste de raiva, cobriste o areal e arranhaste a estrada, enquanto as pessoas fugiam, tentando salvar as toalhas e o farnel!
Hoje estavas muito rabugento! Ainda te toquei com um pé, depois com o outro pé. Deixei que me cobrisses as pernas. Brinquei contigo mas senti que não querias conversa. Não querias companhia. Afugentaste quase toda a gente que timidamente tentou aproximar-se de ti. Em silêncio, fiquei junto a ti, à espera duma expressão mais carinhosa, mas rosnaste e não me deixaste avançar. Recuei e decidi voltar à areia quente. Conheço-te bem. Cresci ao teu lado, vendo-te cuspir lençóis de espuma ou dormindo como um anjo. Não consigo viver longe de ti.